quinta-feira, janeiro 05, 2012

A Marmelada e os Descobrimentos

O marmeleiro é originário da Ásia e foi introduzido na Europa há 4 mil anos. O fruto que dá, apesar do aroma agradável, nem sempre se torna apetitoso ao natural. É ao mesmo tempo doce, ácido e amargo. Em compensação, presta-se à elaboração de doces: geleia, compota, além da marmelada.
A marmelada é um puré de marmelo cozido com açúcar em partes iguais, com o objetivo de o conservar. Pode ser branca ou vermelha.
É uma especialidade da doçaria regional portuguesa. Uma das mais famosas era a de Odivelas (próximo de Lisboa) fabricada no antigo mosteiro pelas monjas e que foi, depois, l evada para várias partes do mundo.
Não confundir com a "Marmelade" inglesa ou americana feita de laranjas . Em inglês, deveria designar-se, com mais propriedade, a marmelada portuguesa por "Quince cheese", geleia feita do marmelo.
Em alemão, "Marmelade" é também sinónimo de "doce de fruta", e pode fazer-se de qualquer fruta... até de cenoura ou de abóbora!
Já agora, sabia que os navegadores portugueses levavam sempre caixas de marmelada nas suas provisões de viagem?
Em 1497 Vasco da Gama, já na primeira viagem às Índias embarca nas naus a maior quantidade possível de marmelada para alimentar a tripulação e para presentear os povos que encontrasse pelo caminho, da costa oriental de África, de Moçambique a Calecute.

Vasco da Gama perdeu grande parte da sua tripulação (cerca de 2/3) por causa do escorbuto, na viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia, porque ignorava que a marmelada que transportava os podia salvar.


A doença só ficou a conhecer-se melhor nas viagens marítimas do século XVI. O escorbuto era conhecido na época das navegações portuguesas (séculos XV e XVI) como "mal de Angola" pois era nas proximidades deste país que os sintomas da doença começavam a afectar as tripulações dos navios portugueses que cruzavam o Cabo da Boa Esperança em direcção à Índia. Foi estimado que cerca de um milhão de marinheiros sucumbiram ao escorbuto nos séculos XVII e XVIII.
Pedro Álvares Cabral também transportou o doce na expedição de descoberta do Brasil.
A irmã de Afonso de Albuquerque enviou-lhe para a Índia, em 1512, marmelada e mel “rosado”. No livro D. João de Castro, (Livraria Civilização, Porto, 1945), sobre o vice-rei da Índia, a inglesa Elaine Sanceau fala da paixão do biografado por marmelada. Em 1545, a sua mulher, Leonor Coutinho, que ficara em Lisboa, enviou-lhe por mar para Goa uma enorme caixa de marmelada, à guarda do mestre da nau, que jurou "por Deus" entregar o volume intacto ao destinatário. Era a única fraqueza de D. João de Castro, homem frugal, guerreiro, versado em ciências e administrador honrado.

Pensa-se que a primeira marmelada preparada no Brasil (em São Paulo) foi feita pelo fidalgo e militar português Martim Afonso de Souza, donatário da Capitania de São Vicente. Foi ele que na primeira metade do século XVI, introduziu o marmeleiro e a cana-de-açúcar nas terras que recebeu do rei D. João III.
A infanta Maria, neta do rei Manuel I, incluiu a receita do doce no seu famoso caderno de cozinha, quando casou em 1565 com Alessandro Farnese, terceiro duque de Parma e Piacenza, na Itália. O mesmo fez Catarina Henriqueta de Bragança, filha do rei D. João IV,
ao casar com Carlos II, da Inglaterra, em 1662. Introduziu a marmelada (e também o chá) naquele país, mas da sua contribuição sobrou apenas o nome, "marmelade". Ainda hoje o doce é preparado ali com laranja, e não com marmelo, fruta menos valorizada pelos ingleses.
A área dedicada ao cultivo do marmeleiro, no Brasil, é cada vez menor. Actualmente, o cultivo limita-se a certas áreas de Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, onde a marmelada já foi o principal produto de exportação, antes do ciclo do café. Assim,a marmelada encontra-se, hoje, em declínio no Brasil.

Nota: "Post" elaborado a partir de algumas informações (entre outras pesquisas) enviadas por mail pelos Diálogos Lusófonos, a quem apresento os meus melhores agradecimentos.




































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