sexta-feira, julho 02, 2010

Uma arma de sedução

Há quem diga que os leques foram inventados na China. Outros afirmam que a sua criação partiu do Egipto antigo. Contudo, parece que surgiram em diferentes partes do mundo ao mesmo tempo, sendo o seu uso tão antigo quanto a existência do homem.
Os leques mais antigos eram enormes, não podiam ser fechados e quem os movimentava eram os escravos. Na época dos descobrimentos, os portugueses trouxeram do Japão a novidade dos leques retrácteis, que logo se espalhou pela Europa, invadindo a França. Tomaram conta da corte e dos salões e inspiraram poetas e pintores. Nessa época os leques eram presos à cintura por delicadas e artísticas correntinhas.
Uma coisa é certa: o leque é sinónimo de leveza, de classe e de muita sensualidade.
É somente no século XVII que o leque ganha a forma com a qual é conhecido até hoje. Torna-se não apenas um instrumento utilitário como uma espécie de vitrine para expressar os gostos de uma época. A partir dessa altura introduzem-se elementos novos e materiais nobres e caros no seu fabrico: relevos, incrustações, pedras preciosas, tecidos italianos e metais preciosos, etc. Alguns destes leques são autênticas obras de arte.
Os leques ao longo da história tiveram, também, diversos formatos. Os leques mais antigos eram feitos de penas, folhas ou pergaminho. Com o passar do tempo, também passou a ser utilizado o tecido, a renda, ou a seda, sendo estas bases pintadas, bordadas com lantejoulas ou com fios dourados ou prateados. Um leque comum é composto por duas partes básicas. Uma é a armação que é uma base rígida, composta por hastes que se sobrepõem, que ao ser movimentada o abre e o fecha. Outra parte é a folha, feita de tecido colado à base. A área da folha pode variar de tamanho dependendo do tipo de leque. Os leques podem ser classificados em diferentes tipos, dependendo de sua decoração. Há-os que só são decorados de um lado e outros dos dois lados (dupla face). Há também os que têm as hastes trabalhadas e os que as têm simples. Há leques com a folha grande e outros com ela bem reduzida. Há leques que não têm esta parte, sendo constituídos apenas pelas hastes, por isso, são chamados leques de baralho. Os leques tradicionais têm, hoje, cerca de 23 cm. Mas existem também os de bolso, que no século XIX eram os mais utilizados pelos homens. É preciso não esquecer que no seu período áureo, os leques eram acessório utilizado tanto por homens como por mulheres.
Todas as sociedades têm suas regras. Em todas as sociedades, as pessoas procuram maneiras de contornar essas regras sem ficarem mal diante dos demais. O leque tornou-se num adereço que serviu não só para quebrar regras ou para as contornar, mas também se tornou numa forma de comunicação. É que há momentos em que as palavras podem não ser o código mais adequado. Assim, o uso do leque permitiu a criação de uma linguagem própria: a linguagem do leque. Esta servia para enviar mensagens de forma muito discreta. A linguagem do leque, nasceu, segundo se pensa, na corte francesa do século XVIII. Foi na França, nas cortes dos reis Luis XIV e Luis XV, que o leque teve seu período áureo. Nesta época tornou-se um complemento indispensável no vestuário das grandes damas.
O leque não exercia, somente, a função de refrescar.
Era portanto, também, fonte de linguagem codificada entre as damas e os cavalheiros. Eis alguns exemplos:
Amo-te - Esconder os olhos com o leque aberto.
Aproxime-se - Andar com o leque, conduzindo-o aberto na mão esquerda.
Quando nos veremos? Leque aberto no colo.
Não me esqueça - Tocar o cabelo com o leque fechado.
Adeus - Abrir e fechar o leque.
Sim - Apoiar o leque no lado direito do rosto.
Não - Apoiar o leque no lado esquerdo do rosto.

O leque é simultaneamente um instrumento utilitário e um adereço. Com a popularização da eletricidade, surgiram os ventiladores, que acabaram por substituir os leques na função de nos refrescar. A era dos leques enquanto utilitários chega ao fim nos anos 30. Mas, mesmo nos dias de hoje, em alguns países – e em ocasiões especiais – continua a ser um acessório indispensável e é visto como sinónimo de elegância.
Este post pretendeu mostrar a aura de sedução e mistério que envolvia e envolve este acessório e homenagear as mulheres. Não podemos deixar de salientar os códigos, os truques e a linguagem gestual que estava associada ao leque e que elas usavam, como autênticos biombos do olhar.

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