quinta-feira, janeiro 15, 2009

Lisboa sob névoa

Outra grande figura da cultura portuguesa cujo destino se cruzou com o Lumiar foi Fiama Hasse Pais Brandão. Polígrafa da cultura portuguesa dedicou-se à poesia, à ficção, ao teatro e à tradução.


Na névoa, a cidade, ébria
oscila, tomba.
Informes, as casas
perdem o lugar e o dia.
Cravadas no nada,
as paredes são menires,
pedras antigas vagas
sem princípio, sem fim.

Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas

segunda-feira, janeiro 12, 2009

No Lumiar

Ilustres personalidades viveram ou tiveram a sua vida de certo modo ligada ao Lumiar.
Almeida Garrett exímio escritor, jornalista, orador e dramaturgo, foi um deles. Amigo íntimo do Duque de Palmela, frequentou os jardins (Parque do Monteiro Mor) do actual Museu do Traje (Quinta Angeja/Palmela) e deles deixou uma bela descrição no poema No Lumiar, das Folhas Caídas.

No Lumiar
(...) Era um dia de Abril.
E nós íamos lentos passeando
De vergel em vergel, no descuidado
Sossego d’alma que se está lembrando
Das lutas do passado,
Das vagas incertezas do porvir.
E eu não cansava de admirar, de ouvir,
Porque era grande, um grande homem deveras
Aquele Duque – ali maior ainda,
Ali no seu Lumiar, entre as sinceras
Belezas desse parque, entre essas flores,
A qual mais bela e de mais longe vinda
Esmaltar de mil cores
Bosque, jardim, e as relvas tão mimosas,
Tão suaves ao pé – muito há cansado
De pisar alcatifas ambiciosas,
De tropeçar no perigoso estrado
Das vaidades da terra.(...)
Almeida Garrett, Folhas Caídas